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sábado, 13 de outubro de 2007

Infância

Quando era criança, eu sonhava. Sonhava em ter asas e voar. Em poder provar todos os doces do mundo. Em poder sorrir sempre, acima de qualquer coisa. Minha candura fazia com que eu pouco notasse os sentimentos podres que faziam parte de algumas pessoas. Minha oração chegava mais rápido ao céu.

Quando eu era criança, minha avó cuidava de mim, e meu avô me ajudava no dever de casa, enquanto meus pais trabalhavam, para pagar as contas. Toda quarta-feira era dia de batata frita, todo domingo, de macarrão e todo sábado, a sobremesa era especial.


Quando eu era criança, eu vivia em um universo alheio à realidade. Tinha amigos imaginários, platéias, pacientes, colegas de trabalho. Eu fazia gol e ia para a galera. Eu fui Marimar, Maria Mercedez e Maria do Bairro. Tive um salão de cabeleireiros para cachorro, onde eu pintava as unhas dos meus com esmalte rosa-choque. Eu escrevia, desenhava. Minhas histórias em quadrinhos circulavam a sala de aula. Tive programa de TV, turnê, consultório médico, escolinha e telejornal – só não fui garota da previsão do tempo, porque eu não encontrava o atlas na hora certa. Escrevi livros, muitos deles estão perdidos por minhas bugigangas atuais - autobiografia, estórias infantis, etc. Eu pensava que o mundo fosse fácil e que todos amassem de verdade.

Talvez, ser criança seja o melhor remédio para não sofrer com o parâmetro atual do mundo. Mergulhar em uma síndrome de Peter Pan, para não ver que pessoas não amam, ou acham que compram amor. Para não ver que a professora nos ensinava a não jogar lixo na rua, mas que todo mundo faz isso e depois reclama quando os bueiros entopem. Que casamentos não duram e que quem tem talento é subestimado. Que há muitos quilômetros de distância, pessoas estão doentes, abaixo do peso e não têm o que comer, enquanto há mais quilômetros ainda, existe um palacete com paredes de ouro, com um homem que usa sapatilhas Prada e que não se importa com o descontrole da natalidade e do índice de pessoas infectadas com o vírus da AIDS. Que pessoas te rejeitam porque tua pele é branca, preta, amarela, azul, ou porque você adora ao Buda, Oxalá, Alá, ou, porque de onde você vem, pessoas dizem paínho, caô, piá, giro, quejin, etc.

Duas décadas de vida não mataram minha criança. Ela sobrevive e lhe é partilhada cada sorriso, emoção, olhar puro que transmito. Ela se manifesta a cada jogo de futebol, onde os passes me fazem gritar, a cada vez em que compro guloseimas no supermercado, após um dia de muito trabalho. É uma criança que sonha, ingênua, e que não perde a alegria de viver, mesmo a tombos e esporros.


Print da tela inicial do Orkut, em comemoração à data: uma graça *--*

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postado por Andréia de Moura às 10:48 AM